segunda-feira, 16 de abril de 2012

CANTINHO DAS CRÔNICAS - ANA CUNHA: ENVELHECER NO SÉC. XXI

Ontem postamos mais uma crônica do nosso amigo Sérgio Emiliano. Hoje, ao abrir o e-mail do nosso blog recebo mais uma crônica da amiga e acadêmica Ana Cunha.
"Envelhecer" é mais uma pérola que tenho o prazer de postar. Assim, estou dividindo com nossos leitores a visão de uma amiga de caminhada que, assim como eu, aprendeu a olhar o mundo com outros olhos.
Tivemos a felicidade de viver um momento bem diferente em Campo Maior. Momento em que as pessoas realmente se preocupavam em construir verdadeiras amizades; sentiam-se bem em poder compartilhar alegrias e tristezas; sorriam de prazer e tinham os olhos atentos nos sentimentos verdadeiros.
Semana passada ela nos brindou com uma reflexão humana sobre o estado de saúde do nosso estado; hoje, aí vem ela com um sorriso amável nos fazendo refletir sobre o ato de envelhecer...

 Envelhecer no século XXI
          Outro dia fui com alguns amigos visitar um asilo de idosos em nossa capital. Ali vivem, sobrevivem, ou ainda melhor, “sub-vivem” mais ou menos 40 velhinhos, de várias partes de nosso estado e de estados vizinhos. Cerca de 70% não têm consciência de mais nada neste mundo. E os outros 30% que ainda têm alguma consciência devem se sentir meio perdidos no meio daqueles que não dão conta de nem si, nem do mundo. Dava para sentir a tristeza daquelas vidas. Eu, na minha fertilidade imaginativa, penso logo no que teriam sido estas pessoas no tempo de suas juventudes.
          Os que ali estavam, tinham idades que variavam entre 75 e 102 anos. Imagino que viveram felizes, trabalharam, casaram, tiveram filhos... Ou não! Imagino que suas famílias lhes colocaram ali porque não tinham onde alojá-los, pois moram em pequenas casas, ou têm o coração muito pequeno. Penso na minha mãe, com 83 anos, lúcida, ativa, amada... Penso no quanto a desejamos perto de nós e não consigo me imaginar deixando-a num abrigo para idosos.
          Soube pelos funcionários daquela casa, que alguns velhinhos ali nunca recebem visitas e, mesmo tendo família, não são procurados pelos parentes ou amigos. Outros, no entanto, têm família que os procuram, levam donativos, mas que, por algum motivo não podem (ou não querem) mantê-los em seus lares, no calor da família e no aconchego do lar.
           Pesquisas revelam que a perspectiva de vida das pessoas nesse novo século é cada vez maior, portanto vamos viver cada vez mais. Então eu me pergunto: pra que viver mais, se é pra viver assim, sem vida?
            Meu amigo levara um violão e começou a cantar uma música de Luis Gonzaga. Notei que alguns poucos, acho que os 30% que ainda raciocinam, começaram a cantar junto com meu amigo. Outros iniciaram músicas que eu não conhecia, mas que deveriam ter feito parte de seu mundo, algum dia, e que as mantinham vivas em suas memórias por algum motivo. Alguns choraram... Quanta tristeza teriam sentido? Mas também quantas alegrias teriam vivido ao longo dos anos? Não lhes fiz perguntas, entender pra que? Afinal quem sou eu para querer saber dos segredos e mistérios que rondam a mente humana?
             Ao me despedir deles, dei um abraço em uma idosa e disse: _ A senhora é muito bonita, sabia?  Ela falou: _ Sou? Sorriu e acrescentou: _ Graças a Deus!
             Saí dali com a alma apertada, o coração doendo e pensando no quão triste pode ser a velhice para aqueles que a enfrentarão sozinhos, sem o apoio da família, dos netos e dos bisnetos, cada vez mais distantes da família, centrados no materialismo e esquecidos da essência do ser. Cadê a afetividade? Cadê o amor?  E o carinho, cadê?  Onde está a humanidade dos homens?
            Se continuarmos nesse ritmo, triste velhice nos espera!
Teresina, dezembro de 2011

Ana Maria Cunha
Cadeira nº 12 da ACALE

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